segunda-feira, 21 de maio de 2007

A WEB 2.0 e o desafio que se nos impõe

O conceito de utilizador-produtor surge de uma forma natural com a massificação da utilização da Internet como meio de informação e de diversão, antes direccionada para e acedida apenas por alguns.

Apesar da democratização deste recurso, considero que ainda estamos longe do fundamento que a própria palavra “democratização” significa. Explico: ao analisarmos a nossa realidade, chegamos à conclusão de que ainda se concentram esforços em desenvolver melhores acessos, nomeadamente banda larga, nos grandes centros e nas metrópoles, deixando para depois aqueles que não têm a sorte de habitar aí.

No entanto, contando com aqueles que têm entrada no mundo virtual, tivemos, a partir de 2002, a origem do que se acabou por designar Web 2.0. A exigência dos utilizadores começou por ditar uma necessidade na abordagem de conteúdos; deixou-se de pensar na Internet como meio reservado de transmissão de informação de entidades para consumidores. Os utilizadores começaram por ditar as necessidades e, assim, os conteúdos foram adicionados conforme as necessidades destes ou por estes. Digamos que podemos classificar esta nova realidade como “colaborativa”, o utilizador não consome exclusivamente, mas produz para si e para os outros. Desta forma, confunde-se facilmente onde termina o produtor e onde começa o utilizador.

As entidades, que antes regulavam e produziam informação e diversão,consoante prioridades que elas próprias definiam, presentemente seleccionam e distribuem-na de acordo com as preferências dos utilizadores, conforme a popularidade de determinados conceitos ou assuntos. A participação dos consumidores nesta definição adveio da necessidade de acompanhar o real do virtual ou ficar para trás. A opção pela segunda suposição revelar-se-ia deveras catastrófica.

Agora, tendo em conta esta nova certeza, poderá colocar-se a questão: será que os utilizadores do dia-a-dia da Web2.0 são assim mesmo, criadores e produtores? Acabei por encontrar um artigo da revista TIME (aqui), escrito por Bill Tanner, director da “Hitwise”, que surpreende e apresenta, de algum modo, resposta a esta questão. Não deixa de ser de pasmar, se pensarmos que se fala tanto da Web 2.0 e da nova realidade em que os utilizadores é que determinam a popularidade e utilização de determinados conteúdos. As estatísticas apresentadas demonstram que apenas 1% dos utilizadores de sítios que se baseiam em conteúdos concebidos pelo utilizador participam nesse processo. Todos os outros acabam por se apresentar de forma passiva.

Após tudo isto, que conclusões tirar? A maioria dos “consumidores” não passa disso mesmo: consumidores. Apesar da possibilidade de criar para apresentar, até de forma gratuita, acedendo apenas à Internet e a servidores que permitem o alojamento, os utilizadores-produtores estão ainda em grande minoria. Este blogue, nascido há pouco, é uma dessas realidades, cujo objectivo é não mais do que poder possibilitar o acesso a diferentes formas de aproximação à informação, tendo em conta a nova realidade da comunicação. Cabe a todos nós promover a participação daqueles que ainda não se revêem nesta forma de estar; sabemos que também aqui se denotam comportamentos sociais e culturais, e se antes já a participação das pessoas em sociedade era assim, aqui veremos o reflexo dessa mesma verdade.

Como este blogue, para o qual escrevo este artigo, surge em consequência duma formação ligada às Bibliotecas Escolares, abre-se aqui um recanto para reflexão acerca do papel ou da existência destas ligadas ao mundo virtual. De que forma poderá a Internet colaborar na promoção das bibliotecas e da leitura? É realmente um desafio, tendo em conta que hoje se tem acesso a muitos meios de informação que não se concretizam propriamente no papel. A preguiça mental, em especial dos mais jovens, leva-nos a questionar até que ponto é possível promover a leitura, essencial à formação plena de individualidade, se não à moda antiga, pelo menos com auxílio dos meios colocados à nossa disposição. Caberá aos potenciais e existentes “bibliotecários” seguirem a tendência da Web 2.0 e tornarem-se Bibliotecários 2.0 abertos a todas as oportunidades de converter as tradicionais bibliotecas em Bibliotecas 2.0, ou seja, comprometer-se com as novas tecnologias de modo a transfigurar a imagem da velha biblioteca em algo mais “apetecível” aos novos consumidores. Estamos aqui para isso, adaptarmo-nos e ajudar na adaptação.